quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Lupicínio 24/7

Ano passado participei de uma oficina de contos na Casa das Rosas. A experiência foi ótima, a pessoa que ministrou a oficina conhecia muito do gênero e foi super didático dando dicas a todos, debatendo dos assuntos mais pertinentes aos menos importantes. Durante a oficina cada participante deveria escrever e ler para a turma um conto. A experiência de ler algo que você criou na frente de todos é um pouco desconfortável, no entanto, enriquecedora. E assim foi, tivemos contos ótimos e outros nem tanto. Publico aqui o meu: "Lupicínio 24/7" A idéia me ocorreu quando ouvi o nome desse cantor, que  é da década de 1940/50, e só cantava música de dor de cotovelo. A intenção foi brincar com a sonoridade do nome em um conto meio erótico. Muitos gostaram, outros não entenderam absolutamente nada. Publico aqui da forma como li na oficina.

Lupicínio 24/7

6º dia , Lupicínio caminha pela manhã de volta do trabalho, nas alamedas o frescor da manhã lhe causa um efeito de ruptura com a vida que está levando. Vivera uma vida fora dos padrões. Em seu oficio, sentimentos desejados por todos eram usados como ferramentas de concentração e repetição.

Em sua pele, marcas de mais uma jornada, em seus pensamentos, questões sobre como sua vida mudara depois de conhecer Gabi e seus cheiros, seus pés, suas coxas e suas costas. Ah! Suas costas! Era capaz de passar horas contemplando aquilo que para ele só se comparava aos momentos no qual se transformavam em uma única pessoa: A respiração ofegante, as mãos que se entrelaçam, os pé contorcidos, a explosão dos sentidos.
Lupicínio conhecera muitas mulheres ao longo de sua atividade. Mas Gabi era a única que lhe fizera vencer sua disposição de não misturar a ocupação com seus desejos mundanos.

- Estaria apaixonado? Questionou-se

- Ora Rapaz, você já viveu essa pergunta milhares de vezes, não se iluda.

- Você é livre para fazer o que quiser. Buscou convercer a si mesmo.

Mas fora traído por sua consciência, que insistia que o acaso tem a palavra final.

A tarde chega e sem dormir a alguns dias Lupicínio começa os preparativos para mais uma jornada.

- Essas drogas me causaram as mesmas sensações de desconforto que estou vivendo a dias. Lamentou.

- Entretanto, são necessárias para a manutenção do corpo.


Em momentos, não conseguiria mais decifrar entre sensações reais ou lembranças, fragmentos de dias anteriores, realidade e desejos se misturavam.

Os minutos que antecedem o encontro com o trabalho e com Gabi são preenchidos com uma urgência que lhe arranca os sentidos e lhe faz estremecer as pernas. Arrisca se em não pensar em Gabi e falha. Sabe que a expectativa é a Mãe da decepção.

A noite chega com uma atmosfera virginal e pertubadora e com ela o trabalho e com ele Gabi.

Em suas primeiras investidas os seus corpos se encontram. Lupicínio não resiste e se entrega, com os quadris ela conduz o ato. Rostos colados, lábios que insistem em não se tocar, poros que se abrem exalando odores primitivos. Nenhuma palavra, apenas olhares. Passam horas nesse ritual que lhe faz sentir selvagem e protetor. Como se buscasse seus limites.


E chegado o fim de mais uma jornada, Gabi se despede com seu olhar frio e profissional. Mas Lupicínio sente que há algo diferente. A doçura do hálito de Gabi lhe causa uma alegria Juvenil de quem acabara de ganhar o primeiro beijo.

7º dia, Lupicínio caminha pela mesma alameda. A brisa da manhã não lhe causa mais estranheza, de certa forma até o conforta.

No fone de ouvido, as frases ditas pelo cancioneiro elevam o seu estado febril e refletem suas sensações, como um timido folião em plena terça feira de carnaval ele canta, baixinho:

O que será que me dá.....

Que dá dentro da gente que não devia,

que é feito um aguardente que não sacia,

que é feito estar doente de uma folia...




E você, o que achou do conto? Comente.

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