sexta-feira, 30 de julho de 2010

Tête-à-Tête - Sartre e Beauvoir



A história de um casal sempre  despertou me enorme curiosidade;  a lembrança de  ter lido e ouvido inúmeras vezes sobre a relação pouco ortodoxa - Apesar de terem uma relação longa, não moravam na mesma casa e só se encontravam no período da tarde, para discutir filosofia, ler e fazer amor.
Na semana passada não resisti aos ótimos comentários de uma amiga, que elogiava muito o livro, e peguei emprestado: Tête - à - Tête , um retrato duplo do casal que influenciou - de forma decisiva - o pensamento e o comportamento do século passado: Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre.
A autora, Hawel Rowley,  é especialista na vida e obra de Simone de Beauvoir e faz desse livro uma biografia pouco usual; a obra descreve a vida do casal do ponto de vista dos seus relacionamentos.
Sartre e Beauvoir se conheceram jovens quando se preparavam para um concorrido exame de admissão para professores de Filosofia. Sartre não impressionara Simone no início e ambos mostrariam nesse exame que estavam muito além dos outros candidatos: Sartre terminou a maratona de testes em 1º lugar, seguido de Beauvoir. Tempos depois foi revelado que a banca examinadora cogitou entregar o 1º lugar para Beauvoir, dado o seu brilhantismo.
Com o crescimento do interesse intelectual,  nasceria o romance e o pacto, no qual monogamia e mentira não teriam lugar. Se esse comportamento não é aceito nos dias atuais, o que dizer no fim da década de 1930?
Simone e Jean-Paul passariam a vida inteira com esse relacionamento aberto, com muitos amantes e um acordo: relatar um para o outro suas relações, dessa forma evitariam o ciúme, que para Sartre era sinal de fraqueza humana.
Dessa forma foram testemunhas dos mais importantes acontecimentos do século XX. Sartre esteve estudando na Alemanha de Hitler e, completamente envolvido nos estudos de Heidegger, não percebeu a ameaça do regime nazista. Nesse período Simone lecionava na França. Com a invasão alemã da Polônia e o início da 2ª Guerra Mundial, Sartre foi trabalhar no sistema de meteorologia do exercito e chegou a ser prisioneiro de guerra quando a França capitulou.
Com a vitória dos Aliados e a libertação da França, Sartre alcançaria fama internacional com seus estudos filosóficos. Defensor do existencialismo, ele sentenciava “ “O Homem está condenado à liberdade”, pensamento que foi amplamente aceito e difundido na Europa pós holocausto.
A fama de Sartre acabou refletida em Beauvoir e o casal passou a circular por toda Europa e EUA com palestras concorridíssimas. Passaram pelo Brasil em 1960, na primeira fila um jovem sociólogo, Fernando Henrique Cardoso, até então desconhecido, prestava muita atenção nas palavras de Sartre.
Em meio a todos esses acontecimentos, o casal nunca abdicou de seu principal hábito: ler e escrever muito, Sartre já lançara o livro de contos “O Muro” e preparava “Náusea”, Beauvoir, que sempre desejara ser escritora, já lançara “A Convidada” (uma espécie de alter ego da autora), e seu envolvimento num trio amoroso: ela, Pierre Labrouse e a enigmática Xavière, jovem que exerce forte atração no casal, e estava trabalhando em “ O Sangue dos Outros”. Obra que expressa o pensamento de Simone sobre a guerra.



A literatura e a filosofia eram mais que assuntos na vida do casal, faziam parte do trabalho diário, Sartre e Simone eram leitores assíduos dos romances policiais e corrigiam as obras um do outro. Foram muitos os livros lançados por ambos, destaque para “As Palavras” livro autobiográfico que Sartre fala de sua infância e o levou a ganhar o prêmio Nobel - ao qual  recusou por questões ligadas à política. Simone sempre escrevera muito, além de seu diário pessoal, trocava inúmeras cartas com Sartre, amantes e amigos. Seu livro “ O Segundo Sexo” causou muita polêmica na sociedade francesa e lhe rendeu fama internacional como escritora.
Sartre e Simone foram pensadores engajados. Com o surgimento da Guerra Fria, Sartre posicionou-se na esquerda, apesar de não ser comunista, defendia a URSS, e dizia que os vermelhos só queriam a paz. Visitou muitas vezes o país – ele tinha uma amante russa que trabalhava no governo, muitos suspeitavam que estivesse sendo espionado pela KGB.
Juntos foram decisivos para o lançamento e sucesso da revista “Le Temps Modernes” periódico que marcou época. Sartre ainda ajudara na fundação do jornal libertário Libértacion. Visitaram Cuba logo após a revolução de Fidel, e estavam presentes quando o fotografo Korda imortalizou a imagem de Che Guevara, em uma das fotografias mais publicadas do século. Críticos da postura francesa em relação à guerra na Argélia, estiveram próximos de serem presos, questionado o general De Gaulle, chefe do governo disse: "Não se pode prender Voltaire".
O Castor - como era conhecida Beauvoir no núcleo de amizades do casal - ministrou muitas palestras nos EUA e foi lá que conheceu um dos amantes que mais lhe marcara a vida – muito tempo após o fim do relacionamento, Algren, que também era escritor, revelaria um total descontentamento por Beauvoir tornar publica a intimidade da relação em seus livros.
Atravessaram o século influenciando o pensamento ocidental e chocando os conservadores com sua relação aberta. Já no fim da vida, Sartre publicaria um estudo de mais de 2 mil páginas sobre Gustave Flaubert, autor de Madame Bovary, e teria fôlego para escrever artigos. Beauvoir dedicara seu tempo ao Feminismo, trabalhando em campanhas pela legalização do aborto e escrevendo suas memórias.
Simone de Beauvoir morreu em Paris dia 14 de abril de 1986, aos 78 anos, e seu corpo está enterrado ao lado do companheiro de vida Jean-Paul Sartre, no célebre cemitério de Montparnasse.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Lançamento do livro: Poemas Errados (dias intranqüilos)

Não é todo dia que um amigo lança livro, especialmente se o livro for de poesia. É exatamente o que vai acontecer no próximo dia 18 de julho. André, que conheci nos tempos de Unisantanna, vai debutar nas letras, digo, estreará no mundo da literatura. André continuamente se mostrou um desassossegado, “antenado” e critico dessa sociedade insana, sempre deu sinais que se enredaria para a escrita. Não fiquei espantado quando soube que começara a escrever poesia. Como amigo, tive o prazer de ler a maioria dos poemas, gostei muito e recomendo.

Para maiores informações acesse: http://poemaserrados.blogspot.com/

Lançamento: Biblioteca de São Paulo, para o dia 18/07 (domingo) - a partir das 14:30hs.

Av. Cruzeiro do Sul, 2630 - Pq. da Juventude - Varanda do piso superior

Programação:

14:30hs - Recepção (Cocktail)

16hs - Sarau

18:30hs - Encerramento


O primeiro livro deste poeta, Poemas Errados (dias intranqüilos), nos faz transitar por diferentes temas: política, educação, amor, tempo, amizade, dor, sexo, felicidade. Se os poemas estão “errados” ou “certos” não me permito opinar. Sei que me agradam. A intranqüilidade sempre me atraiu. Nas poesias de André reconheço essa vontade de desvelar os olhos para o que nos inquieta, nos faz desesperar, buscar, como o autor diz, a felicidade p

ossível, ainda que clandestina.

Tatiana Amendola Sanches

Professora, Cientista Social

Mestre em Comunicação e Cultura