sábado, 20 de fevereiro de 2010

Arquitetura da Destruição

Assisti este documentário por indicação de um amigo que  hoje é professor de História e que na época estava iniciando suas aventuras acadêmicas. Impactou-me muito pela forma como foi feito e com a proposta de mostrar o período nazista através da Arte e da Cultura.  Algum tempo depois precisei rever o filme para um trabalho acadêmico que resultou no texto abaixo.

Este texto tem como proposta a análise do documentário intitulado “Arquitetura da Destruição” os mecanismos utilizados por Hitler e o Partido Nazista para divulgar e viabilizar suas idéias, se valendo como ferramenta principal à concepção estética através da valorização da Arte e do uso da  Cultura de Massa.O conhecimento e as artes podem ser uma ferramenta de libertação. Entretanto, quando usadas com propósitos obscuros e camufladas em códigos secretos ou labirintos lingüísticos tornam-se fator de dominação ideológica, dominação esta fundamental para a legitimação de poderes ditatoriais e autoritários.E é exatamente esse uso que vimos no documentário “Arquitetura da Destruição” que mostra como Hitler se apropriou da arte para difundir o ideário do Partido Nazista e colocar em prática seus planos. A exaltação do seu conceito estético de beleza na Arte e na Cultura de Massa como ferramentas de divulgação e de persuasão do propósito nacional-socialista.
Em 1933, Hitler, que fora pintor e sonhava ser arquiteto - chegara a participar da Escola de Arte de Viena de onde saiu aos 18 anos - e que gostava de temas como a Antigüidade e do músico Richard Wagner, chegou ao poder. O então líder do Partido Nazista arquitetou uma verdadeira transformação da Alemanha e de seu povo. Seu objetivo principal era tornar o império Alemão em uma potência mundial e seu povo em símbolo de perfeição e beleza.A Arte era muito importante para o nazismo, mas somente a arte que refletisse as idéias do Chanceler Alemão, pois a que fosse à contramão desse conceito era considerado depravação. Para o Führer, a Arte era a representação da raça e o maior princípio da beleza era a saúde. Com a idéia de doutrinar o povo alemão com conceitos estéticos foram organizadas exposições que comparavam fotografias de pessoas deficientes a pinturas expressionistas, para mostrar à sociedade a degeneração das Artes que estavam sendo produzidas. Essas exposições tinham o objetivo de impor à sociedade a não-aceitação desse tipo de arte. Em contrapartida, Hitler apoiava exposições que reverenciavam os grandes pintores clássicos e, também, os artistas alemães que seguiam os modelos aceitos e admirados pelo Führer. Hitler também incentivou a produção artística que retratava o “trabalho” do exército alemão. Patrocinou a produção artística de alguns pintores, enviados aos campos de batalha, para retratarem o cenário de guerra, de modo a ressaltar de maneira positiva o trabalho dos soldados.Na arquitetura, projetou e executou construções, sempre de grandiosas proporções, para mostrar o poder de seu império. O cinema também foi utilizado para convencer a população. Filmes que tinham como pano de fundo questões sanitaristas foram exibidos. Por exemplo, o documentário “Vítimas do Passado (1937)”, entre outros, explora imagens de doentes mentais; culpa os 'loucos' por ocuparem grandes e luxuosas propriedades  enquanto 'pessoas saudáveis' vivem em guetos. Ou seja, saúde e beleza humana também deveriam seguir os exemplos clássicos. Pessoas com deficiência mental e física eram rejeitadas e confinadas a lugares separados do restante da sociedade considerada saudável. O então líder alemão se comparava a um cientista para citar a questão: "Sinto-me como o Robert Koch da política. Ele descobriu um micróbio e mudou a medicina. Eu expus o judeu como o micróbio que destrói a sociedade", disse o Führer. Todas essas atitudes demonstradas na Arte e na Cultura de Massa  refletiam  a intransigência frente ao “diferente” e ao que não se harmonizar aos padrões dos modelos impostos. Essa “não-aceitação” impulsionou verdadeiras barbaridades contra a humanidade, cometidas com a intenção de acabar com tudo o que não estivesse dentro dos modelos culturais estabelecidos. As conseqüências desse processo nos mostram o poder e a influência que as Artes tem sobre a cultura, sobretudo a cultura de massa, e  quão  ameaçador é  a manipulação dessas ferramentas por pessoas que estão no poder.


TÍTULO DO FILME: ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO 

DIREÇÃO: Peter Cohen 
NARRAÇÃO: Bruno Ganz 
Suécia 1992 - 121 minutos 



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