segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Caminhos da Educação

O investimento publico em Educação chegou a 5% do PIB e é o maior registrado na história da país. Segundo palavras do próprio ministro, Fernado Haddad: “Estamos ficando alinhados com o que ocorre nos países desenvolvidos”. Haddad se refere ao padrão de investimentos dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que gira em torno de 6%.

Com investimentos dessa amplitude, a questão que ocorre é instantânea: Por que não conseguimos melhores resultados ? O Brasil amarga um dos piores índices de Educação do mundo. É possível, através de investimento maciço, conseguir resultados de países como a Finlândia, onde desde de 1920 não existe analfabetos? Nessa mesmo período o Brasil tinha menos de 20% população nas escolas. Pesquisas mostram que os finlandeses compram, em média, 18 livros por ano. Entre os programas mais assistidos na TV estão documentários e noticiários. A programação estrangeira não é dublada e sim legendada, para que as línguas se tornem familiares. E o professor ainda é um dos profissionais mais reconhecidos e admirados da sociedade - como um dia foi no Brasil.

Com tanto dinheiro investido, quais são as razões para o Brasil obter resultados tão pífios. Podemos copiar modelos de sucesso – como o da Finlândia – para conseguirmos a sonhada melhora no nosso quadro Educacional?

Não podemos simplesmente copiar tais modelos e esperar que os resultados apareçam. Esses modelos foram adotados há mais de 50 anos e são adaptados ano após ano. No Brasil, a escola é a instituição que menos mudou nos últimos 50 anos. Outra questão inquietante é para onde vai tanto dinheiro, sendo que nossos professores recebem um salário indigno e nossas escolas não tem estrutura? A resposta é a mesma para a maioria das mazelas do país: Corrupção. A corrupção, como em quase todas as áreas, está tão escancarada que já nos acostumamos (O mesmo exemplo serve para a violência).

O Brasil tem dimensões continentais e diferenças sociais inimagináveis nos países desenvolvidos com grande índice de Educação.O processo de excelência em Educação é extremamente longo, políticas aplicadas no campo da Educação só mostraram resultados mensuráveis após muitos anos de trabalho. Como em nosso país a sociedade não debate e muito menos cobra resultados, a corrupção acabou se tornando o destino dos investimentos. Hoje, no Brasil, até máfia de merenda existe.

A Educação é vista hoje como moeda de troca. Estuda-se simplesmente para conseguir um diploma. A Educação não é vista como um Valor – como a Família ou a Fé – estudamos para ingressar no mercado de trabalho. Talvez esteja aí à grande diferença entre nós e os países com altos índices de Educação – lá se estuda para a vida, o conhecimento é visto como um grande “Bem” que melhora as expectativas de crescimento humano.

A questão da Educação incomoda no Brasil, simplesmente não à discutimos. Não temos profissionais gestores de educação, nas escolas os diretores, em sua maioria, são indicações políticas.

Diante de tantos problemas, como podemos melhorar nossa escola hoje, com os recursos disponíveis? Um ótimo começo seria rever a condição do professor brasileiro. Precisamos pagar salários atraentes para despertar o interesse nos melhores. A criação de um plano de carreira transparente com a meritocracia como carro-chefe é uma opção que estimularia o jovem à ingressar na carreira docente. Não podemos esquecer que o processo de Educação passa pela questão dos valores: Educação começa no lar e é passado de pai para filho, como nossa população tem hoje baixo nível de escolaridade, precisamos criar uma geração com bons níveis educacionais e a partir daí começar a obter resultados – o que torna o processo longo.

Embora os caminhos para a melhora da Educação trafeguem a questão financeira, me parece não ser o dinheiro nosso maior problema. Está na constituição que toda cidadão tem direito a Educação e, sobretudo, nós pagamos para isso. Cabe a sociedade cobrar os órgãos responsáveis Educação de qualidade, se uma criança com 8 anos (com raras exceções) não sabe ler e escrever é porque há algo de errado na escola. A participação dos pais é essencial. É preciso cobrar a diretora, os professores, todos os envolvidos no processo e não se iludir com transporte e merenda. O foco na escola deve ser o ensino. Outra questão é a burocracia, na maioria dos casos diretores despendem muito tempo com questões administrativas em detrimento das pedagógicas.

Um melhor aproveitamento do professor na sala de aula é, sem dúvida, uma medida que pode trazer resultados em curto prazo. A prescrição da tradicional tarefa de casa ainda é receita infalível no aprendizado. A cobrança de resultados dos professores também é importante. Apesar dos baixos salários, o professor é um profissional que é pago para desenvolver uma função e deve ser cobrado por isso. Esse senso-comum, que o professor é um coitado, abri um perigoso caminho para profissionais desinteressados.

A Educação é uma questão fundamental na pretensão do país de se tornar um lugar mais justo e digno e a sociedade tem papel indispensável nesse processo, sem pressão da sociedade, a Educação vai continuar sendo tratada como simples moeda de troca. Nos próximos 6 anos o Brasil vai receber grandes investimentos, é uma oportunidade para revermos os caminhos da Educação e construir um país com melhor distribuição de renda onde a população tenha acesso à Educação de qualidade.