quarta-feira, 10 de março de 2010

Olhar Estrangeiro

Apesar da globalização e das facilidades que o mundo contemporâneo tem para se comunicar (Internet, TV a Cabo, só para citar algumas), ainda hoje o Brasil é visto através de estereótipos. O objetivo desse texto é refletir sobre essa visão dos estrangeiros sobre os brasileiros, seus hábitos e costumes. Para isso vamos usar como principal referência o documentário “Olhar Estrangeiro” produzido em 2006 por Dudu Miranda, Lucia Murat, Luis Vidal e Paula Abou-Jaoude. Para traçar um parelo com o documentário citado, vamos trazer algumas opiniões e matérias referentes ao assunto, com objetivo de explicar as origens dos clichês e estereótipos que se avolumam pelo mundo afora sobre o Brasil.
A visão dos estrangeiros sobre os brasileiros, seus hábitos e costumes sempre foi estereotipada através de clichês e lugares comuns. Os meios de comunicação de massa (MCM), em especial o cinema, tendem a mostrar uma visão fantasiosa e na maioria das vezes completamente errada. Como se dá essa visão e quais os seus interesses, são uns dos aspectos a serem analizados nesse texto.
Não poderíamos iniciar de forma diferente se não citando o documentário “Olhar Estrangeiro” de Lucia Murat, um filme sobre os clichês e as fantasias que se propagam pelo mundo afora sobre o Brasil. Baseado no livro “O Brasil dos gringos”, de Tunico Amâncio, o documentário mostra a visão que o cinema mundial tem do país. Filmado na França (Lyon e Paris), Suécia (Estocolmo) e EUA (Nova York e Los Angeles), o filme, através de entrevistas com os diretores, roteiristas e atores, desvenda os mecanismos que produzem esses clichês. Analisando o filme constatamos que mesmo pessoas que vivem em países com alto nível de desenvolvimento, como França, Suécia e Estados Unidos, estão propensas a utilizar critérios usados pela indústria do cinema para se referir aos brasileiros. Esse conceito fica claro se analisarmos as entrevistas contidas no filme. Essa falta de interesse em divulgar o real brasileiro é uma questão que envolve também aspectos comerciais. Os produtores americanos não  estão interessados em divulgar a cultura do país, o interesse está no fascínio que as pessoas têm pelo Brasil, como os clichês de exótico e sensual já estão no imaginário dos americanos, ao precisar de uma locação com essas características, Hollywood não hesita e cita o país.
Partindo da proposta do documentário de Lucia Murat, visamos discutir como o Brasil vem sendo apresentado ao olhar estrangeiro através de notícias publicadas nos veículos de comunicação internacionais.
O portal de notícias alemão, DW-World , publicou na edição do dia 01/10/2006 uma entrevista com a tradutora Ray- Gude Mertin, onde entre outras declarações, afirma que “os clichês prejudicam a difusão da literatura brasileira”.
Segue trecho da entrevista:
“Me ocorreu há pouco que o problema do Brasil tem, se comparado a Portugal, é que ele está muito mais prejudicado pelos clichês. Samba, candomblé, futebol e as mulatinhas da Bahia continuam prevalecendo, enquanto que Portugal é encarado como um país à margem da Europa, coisa que a gente não agüenta mais escutar. Tudo bem que um leitor goste de Jorge Amado, que goste de ver coisas diferentes, exóticas, e queira ler algo sobre os trópicos. Não vejo problema nisso desde que não prejudique a literatura, que não a limite. O ideal seria que um livro pudesse ser aceito por ser uma boa obra literária, independentemente de sua origem geográfica. O problema é encontrar editores que pensem assim."
O mesmo portal publicou na data de 08/06/2005, um artigo da revista alemã Der Spiegel, que fez uma crítica a primeira biografia do atacante da seleção, Ronaldo. Segundo a revista, o livro “Ronaldo!” de autoria do jornalista inglês Wensley Clarson e publicado pela editora Bombus, de Munique, comete equívocos grosseiros, como por exemplo, grafar incorretamente a maioria dos nomes brasileiros, repetir os mesmo clichês sobre os jogadores de futebol ( quando afirma que Ronaldo teve uma infância miserável e passou fome, além de ter morado na favela, o que não ocorreu na verdade), além de dizer que a Barra da Tijuca situa-se ao lado da favela Jacarezinho e o Leblon fica nos arredores da cidade do Rio de Janeiro.
Já na mídia espanhola, foi publicado recentemente matérias sobre o Brasil insinuando que tudo se define em dançarinos de samba, prostitutas, traficantes e gigolôs, sem constatar a má qualificação dos brasileiros. Porém a mídia espanhola deixa em destaque que essa visão nada mais é do que a construção da péssima propaganda institucional, somente com o intuito de conseguir turismo dos próprios brasileiros.
No jornal britânico,  The Sunday Times, chama à atenção o Título “Guia para o país mais quente da Terra". Realizando um guia prático do Brasil, dando ênfase na moda brasileira, cinema como os filmes “Cidades de Deus“ e “Carandiru”, hábitos brasileiros ligados ao sexo, dicas de comportamento praiano, e o grande sucesso das telenovelas.  O Jornal ainda destaca a grande importância da política para o cenário internacional, e afirma que o Brasil ainda não é o País do futuro, mas está no caminho certo.
A construção da imagem positiva de um país constitui um fator crucial para seu posicionamento no cenário internacional. A globalização torna cada vez mais acessível a informação sobre diferentes culturas.
O Brasil, entretanto, ainda é assombrado pelos clichês que a mídia internacional sustenta, apesar das inúmeras áreas de destaque e desenvolvimento do país.
Com base nessa pesquisa, relatamos que as publicações revelam imaginários sobre o Brasil, na verdade um imaginário sendo construído, em quanto o próprio país passa por transformações estruturais de crescimento.  Os relatos analisados têm deixado claras as limitações da visão estrangeira, pois esse olhar ocasiona um estranhamento, construindo uma imagem muitas vezes inexistente.
O Brasil é um país de uma rica diversidade, um país de extremos, onde os estereótipos estão constantemente presentes. O que o filme “Olhar Estrangeiro” propõe é a desmistificação desses conceitos, criticando principalmente os profissionais da mídia, os formadores de opinião, que trabalham sem pesquisar a realidade de uma cultura e principalmente sem respeitar sua identidade.


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